“Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não era triste o seu semblante”. I Sm 1:18
Tenho lido por diversas vezes essa passagem em que Ana, uma das esposas de Elcana, clamou a Deus por um filho. A bíblia menciona que de tempo em tempo o fato de não poder gerar vinha à tona causando-lhe humilhação e angustia.
Não bastasse a sua própria frustração, Penina a outra esposa de Elcana, fazia questão de lembrá-la sua esterilidade.
Imagino o semblante de Ana quando mais uma vez se apresentou junto ao templo com seu esposo Elcana e sua rival Penina. Aquele momento trazia-lhe total desconforto. Possivelmente Ana tenha feito aquele caminho se lembrando de todos os momentos de desgosto e afrontas. Que caminhada difícil!
Mais uma vez Ana estava no palco para escárnio. Mais uma vez!
Ana se rompeu em lágrimas e prostrada chorou toda a sua angustia. Palavras? Não havia. Só era possível chorar e gemer. Sua alma clamava por socorro. Passar mais uma vez pelo caminho de volta pra casa sendo alvo de zombarias seria doloroso demais. Talvez não agüentasse. Só havia choro.
Porém Ana estava derramando sua alma no lugar certo. Na presença do Senhor. Chorou para Deus que teve misericórdia e não para sua rival que queria sua destruição.
Imagino Ana levantando-se do chão, depois de ouvir as palavras do sacerdote Eli, sacudindo o pó, arrumando o cabelo, ajeitando sua roupa e esboçando um sorriso nos lábios. Com os olhos vermelhos e ainda marejados de lágrimas Ana podia se achegar aos demais e fazer sua caminhada de volta.
Alimentou-se com o cuidado de uma mãe. Alegrou-se com sua criança (em esperança). Possivelmente tenha caminhado com sapatos confortáveis agindo como uma gestante. Feliz como uma pessoa que alcançou seu sonho. Já estaria gestante no momento do seu clamor? Eu não sei. Mas posso seguramente crer que sua atitude a partir daquele momento em que recebeu a promessa foi de total confiança que seria mãe. O escárnio no caminho de volta não encontrou lugar em seu coração.
Que mudança de comportamento! “...foi o seu caminho e comeu, e já não era triste o seu semblante”.
Será que a história de Ana parou aí? Será que Ana nunca mais enfrentou uma angustia na alma? Todo o seu clamor se resumiu a esse momento da vida em que desejou ter um filho?
Certamente que não!
Porém Ana tinha essa lembrança viva. Imagino que em tempos difíceis em que sua alma só tenha dado seus gemidos; exercitava a sua memória. Que doce lembrança! Que refrigério!
Você e eu também temos nossas lembranças.
Para que servem?
Certamente elas são necessárias para nos fazer perceber que nosso Deus não mudou. Ele tem os seus caminhos nas tormentas e seus planos não podem ser frustrados.
Pode ser que enquanto choramos e clamamos nossas vitórias já tenham sido liberadas.
Devemos nos levantar e deixar nosso semblante triste de lado.
É tempo de enxugar as lágrimas e preparar o nosso canto de alegria. Louvemos ao Senhor!
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Lorraine Cristina