Eu não entendo muito sobre plantas, confesso que meus estudos sobre paisagismo na faculdade não foram muito proveitosos. Porém, é impossível não se encantar com os ipês floridos na cidade. Dizem que o ipê roxo é o primeiro a florescer, porém, na minha percepção, eles são os últimos a enfeitar a cidade. Por onde ando eu os vejo, lindos, floridos, trazendo um contraste de cores sensacional para a paisagem urbana.
Há alguns dias eu estou observando um exemplar dessa árvore bem de perto. Ela fica no meu caminho quando faço minha breve caminhada no horário do almoço. Mas não é apenas a floração que me atrai nessa árvore. Ao redor do seu tronco foi construída uma plataforma para servir de “casa da árvore”. Há uma pequena estrutura improvisada para o guarda-corpo feita com tábuas reaproveitadas de uma construção ao lado.
Passando por ela nunca vejo crianças brincando. Penso que a pessoa que construiu a estrutura seja um pai com a idade aproximada da minha que desejou recriar um espaço nostálgico para que seus filhos pudessem brincar.
Eu não tive uma casa na árvore, mas subi em algumas árvores brincando. Eu, meus irmãos e primos brincamos em estruturas improvisadas feitas com tábuas reaproveitadas de construções. Brincamos em gangorras feitas com cavaletes de obras. Tivemos uma infância com muitas brincadeiras. Claro que nos ralamos no asfalto e obviamente guardamos recordações profundas de Merthiolate. Bons tempos!
Cara! Isso é tão coisa de gente velha!
Na minha época... quem diria! Sou eu a pessoa que está falando isso. Mas já fui a pessoa que revirava os olhos ao ouvir essa expressão.
Como a vida é interessante!
Eu olho para aquela estrutura na árvore e fico pensando na menina que fui quando criança. Muito provavelmente eu a teria aproveitado com meu caderno de desenho, minha borracha e meu lápis na mão. Um lugar sossegado, bonito, colorido e propicio para soltar a imaginação. Eu gostava de passar horas com meus desenhos. Amava desenhar casas e pessoas. Gostava do meu tempo submersa no mundo criativo.
Hoje meu trabalho com desenho é tão diferente. Os lápis e borrachas deram lugar a teclado e mouse e o papel a um monitor à minha frente na altura dos olhos. Os desenhos são técnicos, seguindo especificações e regras, muitos deles seguindo uma estética padronizada no ramo em que trabalho, mobiliário corporativo.
As coisas mudaram, eu envelheci. Mas a “casa da árvore” ali no meu caminho fez a minha menina interior refletir. Eu vivi uma boa infância. Brinquei bastante. Eu era criativa e muito sonhadora, imaginativa. Deu vontade de subir naquela plataforma da casa, deitar com a barriga para cima para observar as flores roxas contrastando com o azul do céu. Seria estranho. Não dei lugar aos pensamentos intrusivos.
Termino por aqui te confessando, mas não conta para ninguém, ok? Eu tenho feito isso mentalmente, isso de deitar e olhar para o céu e para as flores roxas e deixar o pensamento voar livremente. Pode ser que não pegue bem subir numa casa da árvore, mas vou te deixar esse convite, faça isso mentalmente. Bata um papo com a sua criança interior. Às vezes isso ajuda a aclarar os pensamentos. Faz um bem tão bom. Experimente!
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