Pular para o conteúdo principal

Entre a Amígdala e o Temor do Senhor

No mês de abril deste ano, iniciei minha terceira especialização: Arquitetura Aplicada à Saúde, Bem-estar e Neurociências. Amei as duas primeiras disciplinas ofertadas: Neurociência e Comportamento Humano e Emoção, Aprendizado e Memória. Foram temas que me prenderam de verdade e despertaram ainda mais o meu interesse.

Se eu pudesse voltar no tempo para escolher uma profissão, não teria dúvidas em optar pelo design. Mas como segunda escolha, com certeza ficaria com a Psicologia. Sou fascinada pela mente e pelo comportamento humano. Mesmo sem o bacharelado na área, leio e estudo o assunto há muitos anos. Às vezes, troco figurinhas com minha irmã, que é psicóloga.

Ultimamente, tenho meditado sobre um assunto abordado nas primeiras disciplinas da pós: o medo. É um tema polêmico dentro do ambiente cristão, mas que considero relevante e necessário. Quero falar um pouco sobre isso.

O medo é uma resposta natural do cérebro a ameaças. Ele ativa a amígdala cerebral, uma região que processa emoções como o medo e prepara o corpo para lutar ou fugir (a clássica resposta de “luta ou fuga”). Lembra das aulas sobre os homens das cavernas? Naquele tempo, o medo era vital para a sobrevivência. Hoje, não vivemos mais em cavernas nem precisamos caçar para sobreviver. Ainda assim, situações ameaçadoras continuam a ativar nossa amígdala — e sempre vão. O medo se torna problema quando é excessivo ou constante (traumas, fobias, ansiedade). Nesse caso, a amígdala permanece hiperativada, e as reações se tornam desproporcionais. É aqui que entra o córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável por avaliar racionalmente a ameaça e modular a resposta emocional.

O medo é um sistema de autoproteção que precisa ser regulado — e é aqui que entra a fé. Na minha percepção, a fé atua como um modulador emocional. Quando a emoção do medo sobe, a fé entra como um freio regulador, promovendo uma resposta apaziguadora e apropriada.

A Bíblia, inclusive, não ignora o medo. Pelo contrário, há inúmeras passagens em que o medo aparece. Uma das expressões mais repetidas nas Escrituras é: "não temas". E há uma passagem, em especial, que amo: 2 Crônicas 20.

O rei Josafá, de Judá, recebe a notícia de que um enorme exército inimigo (moabitas, amonitas e outros) vinha contra ele. A Bíblia diz que ele teve medo (v.3). E era um medo legítimo — a ameaça era real, concreta. Mas Josafá não nega o medo, tampouco se deixa dominar por ele. Ele escolhe confiar em Deus e transforma o medo em oração e jejum.

Aqui, vemos claramente a diferença entre:

Medo                                     Temor de Deus

Emoção diante do perigo        Reverência profunda e confiança

Leva à ansiedade ou fuga        Leva à oração, dependência e obediência

Foca no problema                     Foca em Deus, a solução

Josafá viu o exército, sentiu medo e reconheceu sua impotência. Mas em vez de fugir, voltou seus olhos para Deus. Ele exerceu o temor do Senhor — não como pavor, mas como confiança respeitosa em quem Deus é.

No verso 12, ele diz:

“Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos estão postos em ti.”

Que coisa linda! Medo apontando para o problema, temor apontando para a solução.

E o que aconteceu?

Deus responde através do profeta:

“Não temais, nem vos assusteis... porque a peleja não é vossa, mas de Deus.” (v.15)

O povo, então, adora antes mesmo da vitória. Eles marcham para o campo de batalha cantando louvores, e o próprio Deus os livra. A vitória veio sem luta, apenas com fé, temor e confiança.

Portanto, ter medo não é pecado. O problema não está no medo em si, mas no que fazemos com ele. Sim, o medo virá — é natural, humano, biológico. Chore, grite, sinta. Mas não se demore lá. Chame a fé. Deixe que o temor de Deus regule o seu coração. Coloque os olhos nEle, como Josafá fez. Deixe que Ele lute as suas batalhas.

Eu sei que é difícil. A regulação da amígdala não acontece num estalar de dedos. Mas também não é impossível. O medo aponta para o problema. O temor de Deus aponta para a solução. E isso faz toda a diferença.

Comentários

Anônimo disse…
Transformar experiência em texto é uma habilidade que você tem e faz bem. Te amo.
Anônimo disse…
Que injeção de ânimo para hoje, obrigada por transbordar em nossas vidas sempre. Bjkas Naty

Postagens mais visitadas deste blog

O que aprendo com a gazela?

Convidada para pregar no culto de encerramento das atividades (2013) do grupo Dorcas (grupo de mulheres da AIDB-Uberlândia), me senti motivada a estudar a história desta personagem bíblica que inspirou o nome do grupo. Quem foi Dorcas? O que seu nome significa? Quais seus valores? Porque sua história motiva outras mulheres que trabalham na obra do Senhor? O nome apresentado na história bíblica é Tabita e sua história é apresentada no contexto de sua morte. Estranho, não? A narrativa se encontra no livro de Atos, cap.9 à partir do verso 36. E assim começa a descrição dos fatos: “E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia. E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num quarto alto”. Para um “leitor dinâmico” estes dois versos resume toda a história. A mulher existiu, era uma mulher de boas obras, ficou doente e morreu (ponto!). Porém estes dois versos mostra...

E o Fogo Lambeu a Água

Gosto de observar a multiforme graça de Deus. Em toda a bíblia podemos ler a respeito de estratégias pouco convencionais que Ele usou para livrar seu povo. Em uma batalha o sol e a lua pararam para que Israel pudesse lutar com vantagem sobre seu inimigo, em outra o grito e assombro foram as estratégias para conquista, outra Israel precisou apenas se colocar de pé para ver o livramento do Senhor e assim por diante. Cada batalha uma nova estratégia vinda da parte de Deus para livramento de seu povo. Aprecio a inspiração divina. Ele confunde os sábios com sua sabedoria e desarma os poderes das trevas com o simples sopro de sua boca. Quem é Deus como o nosso Deus? O interessante nessas histórias é perceber a sintonia que os homens e mulheres tinham com Deus. Eles sabiam que de Deus não se zomba e que cada peleja que enfrentavam estavam amparados por sua palavra. Sendo assim quando leio a história de Elias me maravilho. Ele desafiou os profetas de Baal a colocar a prova de quem e...

Falando sobre "Lagar"

O que Gideão fazia no lagar? Se sua resposta foi diferente de "malhando trigo" acho que não está familiarizado com a história deste homem, pois, era exatamente isso que ele estava fazendo. Mas... para que serve um lagar? Afinal de contas... onde é que se malha o trigo? Bem, não me incomodo se essas perguntas nunca lhe passaram pela cabeça. Porém, desde minha última postagem no blog tenho meditado sobre essa passagem bíblica. O lugar correto para se malhar trigo chama-se Eira que segundo o dicionário quer dizer: extensão de terreno limpo e batido, ou lajeado, onde se secam, malham, trilham e limpam cereais e legumes; Sabe porque Gideão preferiu malhar o trigo num lagar? Ele não estava disposto a perder o seu sustento para os Midianitas . Por algum tempo os midianitas consumiam todo o alimento produzido pelos israelitas. Não somente as suas plantações eram destruídas mas também o seu rebanho. Muito bem, vamos voltar ao lagar... Segundo o dicionário lagar é: tanque onde se ...