De repente me vejo numa sala de espera.
Esperar nunca foi o meu forte e nem me deixa em uma situação confortável. Ainda não soube de alguém que se sentisse confortável numa sala destas, você sabe de alguém?
O projeto do ambiente foge do habitual. A sala é ampla e por incrível que pareça está decorada com vários cálices por sinal bem cheios, o que será aquilo?
Várias pessoas estão acomodadas esperando por um chamado na portinha ali bem discreta. Ao que tudo indica só existe um profissional para atender todos os “pacientes”.
Ah, eu não disse, mas a sala de espera é de uma clínica que atende várias especialidades.
Começo a observar um rapaz assentado do outro lado da sala. Dá a sensação de que está pensativo; preocupado talvez. Apesar disso, seus olhos brilham, será esperança? O que será que ele veio fazer? Porque enfrenta esta espera nessa sala?
De outro lado está um senhor sorridente. Enquanto espera consegue animar outros ao seu redor. Parece assobiar uma canção. Está confiante, será que o médico é um parente? Talvez seja um amigo íntimo.
Enquanto estou viajando nas minhas analises a respeito de cada pessoa sou surpreendida por um choro de uma mulher. Parece bêbada. Cai em uma cadeira e ali mesmo fica a esperar. Nesse momento a sala se torna inquieta. Mais um cálice cheio é colocado no aparador. Pensava que o ambiente tivesse uma decoração já concluída, mas vejo que é bastante versátil.
Impossível não notar aquele homem inquieto assentado ali bem próximo à entrada do consultório. Esfrega as mãos. Transpira muito. Pelo jeito conhece o médico muito bem, mas parece estar armando alguma. Ele se levanta olha para a saída, olha para a portinha do consultório, senta e repete todas as gesticulações até decidir ir embora.
Nesse momento a porta se abre e finalmente ouço uma voz chamar pelo próximo. A voz é inspiradora e ao ouvi-la sinto-me confiante. Descubro que o próximo sou eu. Tenho certeza de que vale a pena esperar a minha vez. Faz tempo que estou aqui nessa sala. Lembro-me de que foi difícil entrar aqui. Relutei bastante e esperar como disse nunca foi o meu forte.
Ouço alguém comentando que o jovem conseguiu. Conseguiu o quê? Pergunto. Controlar a ansiedade e assumir o governo do Egito. Foram anos de tratamento me contam. Hum? Parecia-me um simples jovem, mas lembro-me de ver um brilho de esperança em seus olhos. Seu nome? José.
Procuro saber sobre o senhor sorridente. Calebe era o seu nome me contam. Estava ali para agradecer o médico que lhe tratou o coração. Ensinou a ser confiante e exercitar esperança. Fez com que seu vigor fosse permanente até mesmo na sua velhice.
Querem saber da mulher bêbada? Na verdade não estava embriaga somente sem forças de tanto chorar. Era estéril e estava aguardando o resultado do exame de sangue. A resposta foi positiva, tinha conseguido engravidar. Saiu do consultório pulando de alegria. O nome dela? Ana.
O clima de festa é interrompido quando anunciam o nome do homem que saiu da sala. Lembram-se dele? Judas era seu nome. Assim como muito de nós, estava inquieto demais para esperar. Ah, ele teria ouvido a voz chamando pelo próximo, mas saiu antes. Estava angustiado demais. Preferiu acabar com sua vida do lado de fora da sala.
Ah, me desculpe, tenho que ir. O médico está a me chamar. Antes de sair dessa sala quero te dizer uma coisa. Vale à pena esperar! Pode demorar um pouco, mas o próximo a ser atendido pode ser você. Não faça como Judas, não queira se acabar do lado de fora.
Antes de entrar vejo mais um cálice chegando e opa! Dos cálices sai fumaça como incenso. Ouço João revelando o mistério. São as orações dos santos e são levadas à presença do médico dos médicos Jesus.
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