Há alguns dias, compartilhei com os membros da igreja que frequento uma mensagem com o tema: A Jornada da Fé. Naquela ocasião, usei como metáfora uma experiência que tive ao visitar dois pontos turísticos no Peru — a montaña Vinicunca e a Laguna Humantay — para me referir à jornada da fé.
Falei sobre a beleza daqueles lugares e do êxtase que é estar diante daquelas paisagens. Porém, para acessá-los, é necessário percorrer trilhas desafiadoras — nem tanto pelo terreno, mas pela alta altitude. É necessário muito esforço físico à medida que a altitude aumenta. O fôlego fica curto e a caminhada se torna bastante difícil. Eu havia me preparado para enfrentar aquelas trilhas, mas, mesmo assim, foi desafiador. No fim, valeu muito a pena: o passeio foi sensacional, uma experiência memorável.
Usei essas experiências no Peru como metáfora porque a trilha pelo vale até chegar ao alto da montanha foi muito marcante. Tenho uma foto que a guia turística, que estava me acompanhando, tirou de mim, e esse registro se tornou uma imagem muito significativa para mim. Na imagem, estou caminhando em direção às montanhas, e o vale ao meu redor é imenso. Sou um pequeno ponto no meio da paisagem — vulnerável, pequena e impotente. A paisagem das montanhas ao fundo é linda, imponente e grandiosa. Um contraste impressionante.
E foi assim que me senti há poucos meses, quando entrei num “vale” nessa jornada da vida.
Mencionei o contexto, começando em novembro de 2023, quando tomei a decisão de treinar musculação mais intensamente e me reeducar na alimentação para reduzir o meu peso. Daquele mês até agora, eliminei 15 quilos. Nesse processo, me conscientizei de que sou templo do Espírito Santo, e, por isso, devo cuidar do meu corpo da mesma maneira que busco cuidar do meu espírito.
Neste ano, no mês de fevereiro, dei uma palestra falando sobre o cuidado com o corpo. Depois, dei três aulas na escola bíblica da igreja, abordando o mesmo tema: incentivando a igreja a cuidar da saúde, do corpo, da alma e do espírito. Todos perceberam minha perda de peso e minha mudança de comportamento.
Então, em maio, fiz um check-up para ver como estava me saindo nesse cuidado com a saúde. Dos resultados daqueles exames laboratoriais se desenrolou um “vale” de situações. Passei por alguns profissionais de saúde. Fiz diversos exames: de sangue, de urina, de saliva, ultrassons, mamografia, colonoscopia, ressonância magnética, punção e biópsia. Foram dias difíceis, de muita aflição de espírito e angústia na alma.
Minha fé foi provada. Eu me lembrava da foto que minha guia tirou de mim na trilha da Laguna Humantay — eu tão pequena e frágil em um vale imenso, cercada de montanhas tão altas, enfrentando a dificuldade para respirar. Não duvidei de Deus em momento algum, e minha fé não se baseou no medo que estava sentindo diante de possíveis diagnósticos. Sem entender, com tristeza, aflição e angústia, declarei minha fé dia após dia. Com toda a fraqueza do meu ser, mas com toda a verdade, confiei em Deus.
Dias depois, me lembrei de uma oração que fiz enquanto caminhava no meu intervalo de almoço. Costumo caminhar por pelo menos 20 minutos e orar, de segunda a sexta-feira, para aproveitar melhor meu tempo de descanso. Então, num dia qualquer, comecei a orar e agradecer a Deus pelo dia ordinário. Eu estava prestes a entrar no “vale” — e não sabia...
Fiquei por algum tempo falando com Deus sobre isso: o dia comum, em que nada extra acontece para tornar o ordinário em extraordinário, o comum em algo atípico, fora do normal. Já parou para pensar nisso?
Temos a tendência de reclamar que nada diferente acontece na vida. Ou isso só acontece comigo? Nos entediamos com o dia “normal”: tudo continua como antes, nada de diferente aconteceu na vida amorosa, familiar, financeira... Já pensou como isso pode ser uma dádiva? Já pensou que não ter acontecido nenhum fator novo pode ser um presente de Deus?
Que coisa maravilhosa é encerrar um dia ordinário, em que tudo está bem. Não houve alteração no seu trabalho — você continua empregado. Graças a Deus por isso. Não aconteceu nada novo na sua saúde — você está bem. Louvado seja Deus por isso! Nada aconteceu com a sua família — que maravilha! Estão todos seguros, saudáveis e vivos — que bênção! Sua vida amorosa continua na mesma — veja que bênção! Tudo ordinário. Normal.
Você já agradeceu a Deus por isso?
E por que agradecer? É tedioso, você pode pensar... Mas imagine se o “extra” acontece no seu dia ordinário e as coisas mudam de rumo, e você começa a entrar num vale...
Quando o diagnóstico médico chega, quando um acidente acontece, quando uma agressão ocorre, quando o banco te liga, quando o “extra” chega no seu dia ordinário — e não é algo positivo que bate à porta — a vida se torna amarga. E você e eu sabemos que esse “extra” pode chegar a qualquer momento — e, muito provavelmente, vai nos pegar de surpresa.
É verdade que o “extra” pode ser algo bom e que vai trazer gozo para a nossa alma — louvado seja Deus por isso! Mas também é verdade que ele pode ser uma virada dolorosa no percurso.
Aquelas experiências nas montanhas do Peru marcaram profundamente a minha vida. Posso te assegurar que os lugares altos trazem uma sensação extraordinária ao coração, momentos de contemplação sensacionais. Mas o caminho para os lugares altos passa pelos vales. E caminhar por eles é desafiador demais.
Tenho trilhado um vale doloroso — na saúde, no corpo e na alma. Minha fé tem sido provada. Minha confiança, minha esperança... O “extra” surgiu e invadiu o meu dia ordinário.
Mas eu não vou terminar esse texto por aqui. Preciso te dizer mais uma coisa:
As pessoas apreciam os pontos turísticos, os lugares “Instagramáveis”. Mas, caminhando por esses vales, pude apreciar toda a paisagem ao meu redor e contemplar a beleza de um Deus que está no comando de tudo. Ele criou o vale, tanto quanto criou a montanha. E, na minha e na sua vida, não é diferente. Ele é Deus no dia ordinário e no dia extraordinário. Ele está no comando e no controle. Ele nunca perdeu o controle.
Eu sei, por experiência própria, como é viver no vale. Eu conheço a dor, a tristeza, o choro, a incerteza. Eu sei do que estou falando. Eu sei que é difícil.
Mas, deixe-me te dar um conselho?
Desabe nos braços de Jesus. Chore nos braços dele. Conte para Ele a sua dor. Conte para Ele as suas dúvidas, incertezas e inseguranças. Ele disse que bem-aventurados são os que choram, porque serão consolados (Mateus 5).
Então, agora sim, posso finalizar.
E farei isso com uma pergunta:
Você já agradeceu a Deus pela dádiva do dia ordinário?
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