Mês passado estive com uma pessoa e falei com ela sobre identidade. Acho que fui muito contundente ao expressar minha opinião — mais do que eu gostaria. Porém, esse é realmente um tema que me atrai.
O dicionário Michaelis define identidade como uma série de características próprias de uma pessoa ou coisa, por meio das quais podemos distingui-las. São essas características que nos tornam seres individuais. Embora vivamos juntos, como sociedade, cada um de nós é único; diferente.
A cada dia fico mais impressionada com a tentativa da sociedade de padronizar-nos. As redes sociais se tornaram antros de divulgação de modelos a seguir, e as pessoas, em busca de pertencimento, seguem cegamente esses padrões. A velocidade com que essas fagulhas são lançadas e espalhadas é assustadora. Basta um “influenciador” lançar um produto, uma estética ou um serviço para que a internet se encarregue de reproduzi-lo em massa.
Claro, esse comportamento não é novo. Mas a velocidade de propagação, por causa da internet, é absurda. Lembro dos trabalhos escolares sobre Globalização, e tudo aquilo que antes era especulação hoje parece até obsoleto.
A estética, em especial, me chama atenção. Observo as mulheres: em uma foto de casamento, por exemplo, é difícil encontrar alguém que se destaque. Todas seguem o mesmo padrão de maquiagem, de corte e cor de cabelo, de roupas. Separadamente, estão com os lábios cada vez maiores, cílios exagerados, sobrancelhas idênticas. Seios fartos, bolsas de grife iguais, cheias de penduricalhos sem sentido. Quanto mais dinheiro, mais iguais se tornam. Sem autenticidade. Sem nada que as distinga.
Mas, claro, não posso generalizar. Eu mesma não sou assim. E obrigada, mais uma vez, mamãe, por me ensinar que eu não sou todo mundo.
Infelizmente, esse padrão estético também alcançou os homens. E antes fosse para deixá-los mais masculinos… Mas eles se renderam às harmonizações faciais, maxilares marcados, preenchimentos, olhos puxados, cabelos e barbas implantados. Coloque alguns lado a lado: parecem saídos da mesma fábrica. Só Jesus na causa! Graças a Deus por aqueles que ainda mantêm sua individualidade.
Você pode criticar a minha aparência e pensar que este texto é despeito. Eu te afirmo com toda a certeza: não é.
Gosto das marcas de expressão no meu rosto. Gosto dos meus cabelos brancos. Não me envergonho de envelhecer. Não tenho problema com a minha altura — jamais faria uma cirurgia para aumentar alguns centímetros. Recentemente emagreci 15 quilos, e isso não foi por insatisfação estética, mas por questão de saúde. Gosto das minhas características físicas. E não, não me acho a pessoa mais linda do mundo. Mas sou feliz com a imagem que vejo no espelho.
Não consigo conceber a ideia de injetar substâncias no meu corpo para me moldar a um padrão criado por uma sociedade doente e vazia.
Que sentido há em gastar rios de dinheiro para ter uma aparência “bonita” que não conversa com um interior saudável? Qual o sentido de pendurar um bichinho de pelúcia caríssimo e grotesco numa bolsa de luxo? Pertencimento? Adequação? Para quê? Para quem? Para dizer que você tem dinheiro? Que é “cool”? Ficar com uma cara plastificada só para mostrar que pode? Cara… isso é surreal!
Quantas mulheres lindas e naturais se tornaram objetos plastificados nas mãos dessa indústria estética sem sentido? Onde vamos parar?
Por que as pessoas têm tanta dificuldade de serem autênticas? Que vazio interior tão grande é esse que precisa ser preenchido com intervenções externas?
Num mundo de Ctrl+C / Ctrl+V, ser distinto é um desafio — mas que vale a pena ser encarado. Eu acredito nisso.
Lembro de uma charge em que uma mulher grotescamente modificada passa por uma harmonização e fica “linda”. Ela conhece um homem igualmente modificado. Eles se casam e têm um filho — e a criança nasce com as características originais dos pais. Todos se espantam. Ela não se parece em nada com os dois.
E eu penso: é isso mesmo. Perdemos a referência. Ou será que sou só eu que penso assim?
Hoje em dia, não consigo distinguir uma menina de 12 anos de uma jovem de 18. Perdi completamente a referência. Eu me olho no espelho e vejo alguém cuja imagem corresponde à idade que tem. Fora de casa, é outra história. Me visto com modéstia, tenho cabelos brancos e não escondo minha pele madura debaixo de maquiagem.
Qual a minha idade? Eu não jogo esse jogo — embora fale tranquilamente sobre isso.
Agora te pergunto:
-
O que você acha de tudo isso?
-
Você adapta o seu comportamento ou aparência para pertencer ao grupo em que está inserido?
-
Ou acredita que vale a pena manter suas características que te definem?
-
Você se considera uma pessoa autêntica?
Comentários